Meu diálogo com Jordan Peterson
- Matheus Benites
- 9 de jul. de 2024
- 5 min de leitura
Em meados de 2017 eu conheci um professor de Psicologia que disponibilizava suas aulas no YouTube. Sua abordagem era interdisciplinar, traznedo à baila ideias da Filosofia, da Biologia, da Economia, da Religião comparada, entre outras áreas, oferecendo uma visão de mundo que impactava cada vez mais os jovens internacionalmente. O Dr. Peterson fala muito sobre assumir responsabilidade e dar o melhor do que é capaz nos empreendimentos pessoais, enxergando a vida como uma aventura. Sua visão da realidade é muito influenciada pela fenomenologia, pela Psicologia analítica de Carl Jung e pelo estudo do comportamento humano somado à literatura das mais diversas mitologias e histórias. Segundo ele, após uma juventude entregue aos vícios e à ideologia socialista em Alberta (Canadá), ele buscou "colocar sua casa em ordem" e assumir responsabilidade, o que resultou na publicação de Mapas do significado (Maps of meaning), uma obra ambiciosa e densa, na qual Peterson afirma ter escolhido com precisão cada palavra. Mas sua escalada à fama veio muitos anos depois, porém, de ele ter publicado seu primeiro livro. Aconteceu quando o professor da Universidade de Toronto, crítico das filosofias pós-modernas (Foucault, Derrida, Butler, etc.) e da cultura woke, defendeu sua posição em protesto a uma lei que visava policiar a linguagem com pronomes neutros. Enxergando isso como uma ameaça à liberdade de expressão e buscando opor-se ao perigo da tirania, o estudioso de regimes totalitários e histórias religiosas viralizou em um vídeo em que confronta os estudantes woke no campus da Universidade. Depois, seu debate com a apresentadora Cathy Newman sobre a polêmina tornou-o um intelectual internacionalmente discutido, o que contribuiu para alavancar seu já crescente status de intelectual pop da direita política. Seu segundo livro, 12 regras para a vida, foi um imediato best-seller.

Eu e Jordan Peterson no Espaço de Eventos Unimed (SP)
Embora discorde de algumas de suas visões (mesmo sendo um liberal clássico como ele), eu não parei de acompanhar o trabalho do Dr. Peterson. Na posição de um ateu crítico do Cristianismo e que admira parte de seus ensinamentos, fiquei cada vez mais fascinado por como ele estava se aproximando da religião cristã, sem admitir-se um cristão. Pois pude acompanhar cada momento da gradual cristianização de seus aulas, vídeos, livros e palestras. Isso ficou evidente com o seu tour de lições sobre as histórias bíblicas. Em seu debate com Sam Harris, este último o provocou a afirmar se ele acreditava ou não em Deus, ao que o canadense argumentou que age como se Ele existisse, dentre outras esquivas. Todavia, o Deus que Peterson age como se existisse parece muito diferente daquele cultuado pela maioria dos cristãos, conforme observou o próprio Sam Harris. É um espírito, aparentemente impessoal, que avalia nossas ações e sacrifícios. A dificuldade do pensador em precisar sua visão é perturbadora e suspeita. Entretanto, desde então, após recuperar-se de um severa crise de saúde em 2021, ele tem se aproximado mais e mais da cristandade, chegando a admitir, quando pressionado pelo podcaster ateu Alex O'Connor em uma entrevista, que suspeita que a ressurreição de Cristo realmente aconteceu. Foi neste contexto que Peterson veio palestrar pela primeira vez em território brasileiro. Sabendo de sua vinda, garanti rapidamente meu ingresso para a apresentação de São Paulo, que tomou lugar no Espaço de Eventos Unimed na noite de 18 de junho de 2024. Tendo chegado a admitir a existência de uma estrutura metafísica para a realidade, mas mantendo o meu ateísmo junto a isso, viajei preparado para fazer uma pergunta ao Psicólogo se tivesse a oportunidade. Na palestra, ele discorreu sobre a história de Caim e Abel, destacando como Caim não traz o seu melhor para a mesa, ao contrário de Abel. Este último, capaz do sacrifício correto para colher os frutos, torna-se um "favorito" de Deus, enquanto o primeiro, mal-sucedido, mergulha na inveja e no ressentimento. Peterson exortou o público a trazer sempre o seu melhor para a mesa, em todos os projetos. "Todo ideal é um juiz", afirmou o pensador. Ao fim da palestra, densa e interdisciplinar, mas ancorada em sua interpretação psicológica do Antigo Testamento, integrei um grupo VIP de cerca de trinta pessoas que tiveram a oportunidade de conhecer o autor cara a cara. Foi feita uma fila no salão, por meio da qual cada pessoa teve a oportunidade de cumprimentar o Dr. Peterson e tirar uma foto com ele. Em seguida, ele subiu ao palco para responder algumas de nossas questões. Antes de tirarmos as fotos, quando ele me cumprimentou, eu me apresentei e disse que admirava sua visão sobre Nietzsche e que tinha uma pergunta para ele. O autor canadense respondeu que ficaria de olho para me chamar durante a parte de perguntas e respostas. De fato, ele não se esqueceu de mim. Minha pergunta foi a última e mais densa e fora da curva com relação às demais. Embora sua resposta não tenha sido exatamente satisfatória, ele parece ter gostado da pergunta e a levado bastante a sério. Ele disse que seu novo livro We who wrestle with God se trata exatamente sobre ela. Qual foi a minha pergunta?
Eu simplesmente perguntei para ele o que, a despeito da existência de uma estrutura metafísica para a realidade, o faz crer que o Deus teísta cristão seja verdadeiro, uma vez que milagres como a ressurreição são implausíveis. Ele respondeu que a resposta para esta pergunta era muito complexa para ser respondida ali e que ele precisaria, não só do novo livro, mas também do outro que já está escrevendo, para respondê-la satisfatoriamente. Ele elogiou a pergunta com seriedade e encerrou a noite, despedindo-se do público. Eu tive a oportunidade de gravar o áudio de nosso diálogo, contando com a ajuda de colegas que conheci no evento. O conteúdo está disponível no vídeo abaixo, do meu canal do YouTube.
Mas, conforme você pode ouvir no vídeo, ele ofereceu um pródomo para a resposta a ser encontrada em seu livro. Ela tem a ver com a noção de sacrifício e sua centralidade para o funcionamento da comunidade. Isso ainda é pouco e não justifica os milagres, intervenções e Cristo. Foi uma noite memorável. Por alguma estranha razão, eu já havia algumas vezes imaginado uma situação em que o encontrasse pessoalmente e trocasse algumas palavras. Talvez tenha a ver coms eu carisma ou o quanto seus conselhos para a vida pessoal contribuíram com meu desenvolvimento entre vinte e vinte e cinco anos, período no qual eu criei meu canal do YouTube e realmente investi no meu crescimento pessoal e profissional, de modo mais realista, maduro e focado. Mas será que sua resposta vai me convencer? Teremos que esperar até o mês de novembro, quando o livro sair e eu fizer uma análise em meu canal do YouTube. Abaixo, você encontra um outro vídeo, em que eu introduzo o pensamento de Peterson em maiores detalhes, assim como links para adquirir seus livros já publicados.
Livros de Jordan Peterson:
Mapas do Significado -https://amzn.to/3LiUohk
12 regras para a vida - https://amzn.to/45ZPKi3
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