O primeiro filósofo ateu: como o Barão d' Holbach iluminou a modernidade
- Matheus Benites
- 2 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Se ele foi de fato o primeiro pensador abertamente ateísta é pouco relevante. O que importa é que, dos filósofos cujas obras e pensamento tiveram impacto significativo na cultura e que foram ateus, ele foi pioneiro. O Barão Paul-Henri Thiry d'Holbach nasceu em 1723 na Renânia, atual Alemanha, mas fez sua vida na França, onde se tornou uma figura central do Iluminismo. D'Holbach foi um dos intelectuais mais ativos e radicais do círculo enciclopédico de Paris, que incluía nomes como Diderot, Voltaire e Rousseau. Além de filósofo, d'Holbach era um mecenas, oferecendo seu salão como ponto de encontro para debates e discussões filosóficas. Na a coterie holbachique, ele recebeu nomes como Diderot, Condillac, Condorcet, D'Alembert, Turgot, La Condamine, Helvétius, Galiani, Morellet, Jean-Jacques Rousseau, entre outros.

O século 18 foi o século do iluminismo, da sensibilidade, do empirismo de David Hume e da literatura libertina de Marquês de Sade, da preocupação com os sentidos, criação dos primeiros museus e auge das pinturas de paisagem. Neste contexto de intensas mudanças culturais, o que distingue d'Holbach dos outros filósofos de sua época é sua postura abertamente ateísta. Em uma era em que o teísmo era a norma imposta pela sociedade, e que ainda era potencialmente perigoso desviar-se dela, d'Holbach defendeu com coragem e clareza a ideia de que o universo pode ser compreendido sem a necessidade de um deus. Sua obra mais famosa, O Sistema da Natureza, publicada anonimamente em 1770, expõe uma visão de mundo materialista, onde tudo no universo é resultado de causas naturais, e a moralidade humana pode ser explicada sem apelo ao sobrenatural. As ideias de d'Holbach foram tão controversas que ele precisou publicar muitos de seus trabalhos de forma anônima ou sob pseudônimos, como outros pensadores da época. Hume, outro pensador ateu posterior, só pôde ter publicada a sua obra Diálogos sobre a religião postumamente. Talvez possamos afirmar que muitos dos filósofos iluministas não se afirmavam abertamente ateus por conta dos perigos da época associados a esta posição e, em vez disso, afirmavam-se deístas, como Voltaire, ou manifestavam uma crença muito particular e diferente da ortodoxia. É o caso de Rousseau, mas este podemos afirmar com mais segurança que não era ateu. Apesar disso, as obras de d’Holbach circularam amplamente e influenciaram profundamente o pensamento secular e o movimento ateísta que se seguiu. D'Holbach plantou as sementes de uma visão de mundo que valoriza a razão, a ciência e a ética sem necessidade de uma base religiosa. Ele foi um pioneiro em desafiar os dogmas religiosos de seu tempo e em promover uma filosofia baseada na razão e na observação do mundo natural. Sua coragem em questionar o status quo e sua influência duradoura fazem dele uma figura central na história do pensamento ateísta e secular.
Em sua obra sobre política, Etocracia, recém-publicada em português pela Unesp, Holbach pede para que seus leitores saibam escutar a Natureza. Segundo este moralista ateu e naturalista, o bom governo e a tirania jamais podem se confundir. Etocracia, escrita em 1776, ressoa profundamente em nossos tempos, onde a hipocrisia disfarçada de piedade leva à decadência dos Estados, e os governantes, indignos de seu título, tratam seus cidadãos como meros números, para os quais a busca pela felicidade é irrelevante. Diderot, inspirado por Shaftesbury, costumava afirmar que os ateus também podem ser virtuosos, e a obra de seu amigo Holbach é um exemplo claro dessa afirmação.
Assista aqui o meu vídeo sobre ele no YouTube.
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