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Milagres existem? Conheça argumentos contrários

  • Foto do escritor: Matheus Benites
    Matheus Benites
  • 14 de mai. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 12 de jun. de 2024

Na visão cristã da História, a Bíblia narra diversos milagres que teriam acontecido nos tempos antigos, sobretudo com Jesus de Nazaré, supostamente capaz de transformar água em vinho, andar sobre a água e curar várias doenças e enfermidades, incluindo cegueira, lepra, paralisia e surdez. Não bastando isso, ele teria sido capaz de ressuscitar da morte Lázaro e, como sabemos, ele próprio. Pois ele era, supostamente, o próprio Deus, muito embora, como bem aponta Bart Ehrman, o Jesus de Nazaré histórico nunca reivindicou ser Deus.


Desde que existem meios mais técnicos e científicos para registrar e analisar fenômenos naturais (ou possivelmente sobrenaturais), entretanto, nenhum ser iluminado, tal qual o Jesus de Nazaré de dois mil anos atrás, foi capaz de realizar feitos deste tipo na frente de uma câmera, por exemplo. Nenhum monge tibetano, ou guru indiano, por mais cultuado que seja. Entenda que nada impede fanáticos de fazerem alegações sobre seus gurus. Alegações continuam existindo em torno de figuras assim, mas provas concretas, que possam convencer a comunidade científica, não há. Apesar disso, a Igreja Católica afirma que os milagres continuam acontecendo, dispondo de um processo oficial para avaliá-los e oficializá-los, ou não.


Vamos analisar alguns supostos milagres recentes.


Exemplo 1:


São Januário ou “San Gennaro”, em italiano, é o padroeiro de Nápoles. Ele foi martirizado no século IV e um pouco do seu sangue foi guardado em um relicário. Devendo estar completamente seco depois de 1.700 anos, o que acontece é que, todo ano, em 19 setembro, o sangue se liquefaz diante de milhares de fiéis. A liquefação começou a acontecer depois do terremoto de 1980, que matou mais de 2.500 pessoas em Nápoles.

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Exemplo 2:


O Sudário de Turim é uma peça de linho que muitos acreditam ser o lençol que envolveu o corpo de Jesus Cristo após sua crucificação. Alguns dos supostos milagres associados a ele incluem a imagem do corpo de um homem que parece ter sofrido ferimentos semelhantes aos descritos na crucificação de Jesus, bem como relatos de curas milagrosas atribuídas à sua exposição.



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Exemplo 3:


Há também a suposta intercessão da Madre Teresa de Calcutá, que levou à sua canonização como santa pela Igreja Católica em 2016. O milagre envolveu a cura inexplicável de um homem brasileiro, Marcilio Haddad Andrino, de uma infecção cerebral grave. Marcilio estava sofrendo de hidrocefalia obstrutiva devido a múltiplos abscessos no cérebro e estava em estado grave, com prognóstico médico desfavorável. Sua esposa e sua família começaram a rezar pela intercessão da Madre Teresa pedindo sua cura. Marcilio se recuperou completamente, sem sequelas, e sua melhora foi considerada um milagre pela Igreja Católica após uma investigação rigorosa.



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Com exceção deste último exemplo, não tem nada nesses milagres que ajude na diminuição do sofrimento humano ou no combate aos males do mundo. Se Deus existe e está intercedendo com sua força natural apenas para fins de confirmação de que ele existe por meio de eventos aleatórios, devemos nos perguntar que tipo de Deus é esse e que tipo de onipotência é essa… Ele não está ajudando crianças desnutridas na África, não está impedindo enchentes de destruírem famílias e cidades, ou curando pessoas com doenças graves. Em vez disso, ele está fazendo micro-manifestações confusas para glorificar a si mesmo.


Sobre o caso da Madre Teresa, existem muitas pessoas com doenças semelhantes a de  Marcilio, cujas famílias realizam o mesmo procedimento de pedir intercessão de santos e não tem o mesmo resultado, muitas delas vindo a falecer. Por que os santos ajudariam a uns fiéis e não a outros? Tome um instante para pensar sobre o que é a oração. Você realmente acha ser plausível que seres humanos tenham o dom de se comunicar, por via mental, com o criador do universo ou seus eleitos?


É mais plausível pensar que não foi por causa da reza à Madre Teresa que Marcilio se recuperou e que, mesmo se sua família não tivesse rezado, ele se recuperaria da mesma forma. Não tem nada de errado em não poder explicar algo. É melhor admitir isso do que recorrer a explicações sobrenaturais implausíveis. Como afirmei, a Igreja também precisa desse tipo de superstição e mídia para manter sua posição de controle e influência nas pessoas. Se você, como eu, já teve o privilégio de visitar Roma e o vaticano, você deveria entender do que eu estou falando. A fé é, também, um grande negócio, e as instituições religiosas dependem da fé dos fiéis. Então, cada pequena oportunidade de comoção e atração de fiéis, é aproveitada. Especialmente no século XXI, com o declínio da religiosidade.


O filósofo David Hume, em sua obra Investigação do entendimento humano, escreveu o seguinte sobre milagres:


Um milagre é uma violação das leis da natureza; e na medida em que uma experiência firme e inalterável estabeleceu essas leis, a prova contra um milagre, pela própria natureza do fato, é tão completa quanto qualquer argumento baseado na experiência que se possa imaginar.

HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano, Cap. X.


O ponto de Hume é que nenhum testemunho fornece evidências que seriam precisas para nos fazer crer que as leis naturais foram violadas em ocasiões específicas e isoladas. Nenhum testemunho jamais foi capaz de fornecer uma evidência satisfatória. E Hume está certo quanto a isso.


Por fim, gostaria de apresentar um argumento simples que eu formulei. Não é nada rebuscado, mas para mim é suficiente para dar conta do problema dos milagres. Você pode até chamar de “argumento Benites contra os milagres”.


P1 Seres humanos são conhecidos por dissimular e manipular uns aos outros.


P2 Relatos de milagres de tempos remotos, como os de Jesus de Nazaré, podem ter sido dissimulação e manipulação por parte dos escritores cristãos.


P3 Muitos fiéis acreditam em milagres por uma vontade de crer, que com relação a este assunto atua neles com mais veemência do que a racionalidade.


P4 Nenhum milagre, nem de tempos remotos nem de tempos atuais, dispõe de provas indubitáveis, como por exemplo uma filmagem audiovisual.


C É mais plausível pensar que milagres, antigos e atuais, são falsos, sendo os seus proponentes levados a sugerir sua veracidade por uma vontade de crer ou por deliberada mentira e manipulação.



Agora, caso queira se aprofundar, você pode assistir a um vídeo do meu canal do YouTube sobre este tema dos milagres clicando aqui. Para assistir a outro vídeo do canal, sobre por que Madre Teresa era, na verdade, uma pessoa de conduta antiética em suas práticas missionárias, clique aqui. Vale a pena ler o "Livro dos milagres" para um aprofundamento ainda maior e uma compreensão de por quê milagres são falsos, apesar de atraentes. Este livro pode ser adquirido aqui.

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